Algumas imagens registradas com perplexidade durante a visita, dia 16 de dezembro, com o arq. Paulo Brazil para percepção da dimensão do desastre.
Grupo de Estudos Urbanos de Blumenau. Composto por arquitetos e urbanistas é responsável pelos posicionamentos do IAB relativos as questões urbanas e de planejamento. Poderão ser convidados à participar de forma permanente ou não outros profissionais ligados ao tema.
Aconteceu nesta quinta-feira a primeira audiência pública para discutir a situacão dos desabrigados e os caminhos para resolver a situacão habitacional no município. Muitos foram os problemas relatados, desde os mals tratos nos abrigos, até o descaso do poder público, que até o momento náo havia recebido os desabrigados para uma reunião sequer, enquanto os empresários já foram convidados para 3 reuniões. Neste momento todos devem ser ouvidos, as decisões sobre o futuro da cidade e quais escolhas faremos devem prever a participacão de todos, sem excessão. A arq. Sonia Roese, representou na mesa diretora dos trabalho o IAB-BLUMENAU, fazendo uso da palavra para defender um novo modelo de planejamento ambiental e habitacional. Christian Krambeck defendeu um pacto pela reconstrucão, pautado pela participacão popular direta, transparência e gestão integrada, envolvendo todas as esferas de governo e a sociedade civil. Estiveram presentes ainda a presidente da COHAB, o secretário de planejamento, representante da Caixa, dep. Ana Paula Lima, ver. Vanderlei entre outras liderancas e representantes, além é claro, de muitos desabrigados e movimentos sociais que se apropriaram do espaco, proporcionando um debate bastante acalorado e polêmico, mas de grande valia para a continuidade dos trabalhos e decisões políticas.
O GEU-BLUMENAU participou, nesta quarta-feira, do primeiro encontro de desabrigados, organizado pelo Fórum dos Movimentos Sociais, sindicatos e demais movimentos. Estiveram presentens mais de 50 moradores que perderam seus lares e ficou claro que nenhuma decisáo em termos de planejamento, habitacao ou abrigos temporários pode ser tomada sem a participacao direta destes cidadaos. As principais reclamacões foram em relacão ao tratamento dispensado nos abrigos: desvio das melhores doacões, humilhacóes, controle excessivo, falta de autonomia para os desabrigados e falta de informacóes. O coordenador do GEU, arquiteto Christian Krambeck se manifestou ao final das falas falando da importância dos desabrigados se organizarem para cobrar um processo participativo; afirmou ainda que o IAB está firmando um convênio com a Prefeitura e que este preverá a participacão dos moradores nas decisões e nos projetos habitacionais. Afirmou ainda que é fundamental lutar não apenas por um teto, mas por uma casa adequada ao perfil de cada um, localizada num local com toda a infra-estrutura e próximo ao sistema viário, com áreas de lazer e cultura. Os desabrigados são os atores principais do processo e devem participar desde o início, apenas assim aproveitaremos a oportunidade para repensar a cidade.
http://www.bogotacomovamos.org/scripts/home.php
http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/
Não podemos esquecer que se investirmos em espaços equilibrados, dignos e adequados à realidade dos moradores temporários (10 a 12 meses)estaremos evitando problemas maiores durante o funcionamente destes abrigos, o que poderia inviabilizar alguns deles, trazendo problemas muito mais graves e inclusive custos não previstos, principalmente custos sociais. Temos certeza, inclusive pelas conversas já realizadas, que a Prefeitura está sensível em relação ao problema e não poupará esforços para que estes abrigos sejam referência nacional em termos de qualidade, eficiência e simplicidade.
Acontece neste exato momento, de onde estou escrevendo este relato, no galpão da arquitetura - FURB o primeiro atelier de projeto organizado pelo IAB, após firmar parceria com a Prefeitura para a elaboração do projeto de adaptação e humanização dos abrigos temporários, para os quais os desabrigados serão transferidos em meados de janeiro. Reunir mais de 15 arquitetos da cidade, a maioria formados aqui mesmo, é algo bastante emocionante e aponta caminhos para o futuro, um bom futuro por sinal. Estamos enfim, mesmo diante do momento sensível, assumindo nosso papel social e de articulação da categoria e contribuição para a sociedade.
O desafio é atender as necessidades e prazos da Prefeitura e dos desabrigados e contribuir para que estes espaços temporários sejam adequados e dignos, trazendo um nível aceitável de conforto ambiental, preocupações com a segurança e mobilidade, inclusive acessibilidade e soluções que permitam imprimir minimamente a identidade dos moradores durante esses 10 meses em que ficarão ali abrigados, até a entrega de suas casas, no natal de 2009.
Acho que a partir daí começamos a tomar consciência da dimensão da coisa e de nossa responsabilidade. Acho que ninguém mais terá coragem de fazer as coisas como vinham sendo feitas, ninguém mais terá coragem de fazer as coisas mal feitas, mal pensadas e mal planejadas. Inclusive temos nossa parcela de responsabilidade, os arquitetos deveríamos estar mais presentes na formulação das políticas públicas e gestão da cidade.
MANIFESTO PÚBLICO IAB-BLUMENAU
- respeite a natureza e sua dinâmica, ocupando apenas áreas ambientalmente seguras e urbanisticamente qualificadas;
- repense o seu modelo de uso e ocupação do território através de instrumentos decisórios participativos e democráticos;
- tenha um Plano Diretor Participativo de Desenvolvimento Territorial condizente com suas condições e características físico-ambientais, culturais, sociais e econômicas;
- pense o território de forma integral e articulada, sem distinção ou discriminação de quaisquer áreas ou classes sociais;
- possa atrair investimentos e turistas justamente porque se tornou um paradigma nacional de planejamento, gestão e desenvolvimento urbano;
- não esqueça jamais esta tragédia e que mais cedo ou mais tarde as águas voltarão;
- mantenha a solidariedade permanente com as pessoas e suas necessidades, onde todos participem e contribuam para uma cidade melhor.Encerramos este manifesto com mais uma frase do Prefeito, que certamente estará à altura deste momento histórico: “Essa tragédia nos deixa uma lição, precisamos respeitar a beleza do Vale e ocupá-la de forma mais adequada!” Blumenau, 02 de dezembro de 2008.
Instituto de Arquitetos do Brasil – Núcleo Blumenau GEU/Blumenau - Grupo de Estudos Urbanos